A morte recente de Edwin Rodrigo Castro de la Parra, um jovem imigrante guatemalteco em busca de asilo nos Estados Unidos, transforma o Rio Grande, na fronteira do México com os Estados Unidos, no "rio de sangue", assegurou recentemente a irmã Norma Pimentel, diretora executiva de Catholic Charities do Vale do Rio Grande.

Através de uma publicação no Facebook, a irmã Pimentel assinalou que com a morte de Castro de la Parra, todos no acampamento de migrantes em Matamoros, às margens do Rio Grande, “estão sofrendo” e “chorando por causa do amigo, seu companheiro, seu irmão, seu neto, seu marido, seu pai, está morto”.

O corpo de Edwin Rodrigo, considerado um líder da comunidade migrante guatemalteca, foi encontrado na terça-feira, 18 de agosto, às margens do Rio Grande. Enquanto alguns afirmam que morreu tentando atravessar o leito do rio que serve como fronteira natural entre o México e os Estados Unidos, a irmã Pimentel afirma que não foi assim, porque “todos sabiam que ele não sabia nadar”.

O jovem estava na área da fronteira com sua mãe, sua irmã, sua esposa e sua filha por mais de meio ano, esperando receber asilo nos Estados Unidos.

Segundo a religiosa norte-americana, o migrante guatemalteco “aproximou-se para ver uma mulher grávida que estava tentando atravessar o rio, escutou um grito e achou que precisava de ajuda. Então, de repente, ele se foi. Caiu no rio? Tudo o que há é silêncio e lágrimas”.

“O Rio Grande converte-se no rio de sangue”, continuou a religiosa em sua publicação, porque “já tirou muitas vidas”.

“É triste que vítimas inocentes que buscam a vida tragicamente encontrem a morte. Mais quantas vidas serão necessárias para que termine esta tragédia que ocorre continuamente por mais de um ano causada por MPP (N.d.R.: Protocolos de Proteção a Migrantes)”.

No dia 19 de agosto, segundo publicou a Irmã Pimentel, os migrantes do acampamento Matamoros fizeram uma cerimônia de despedida de Edwin Rodrigo, com uma procissão de flores e uma cruz no local onde seu corpo foi encontrado.

 

De acordo com os Protocolos de Proteção aos Migrantes, implementados pelo Governo dos Estados Unidos desde janeiro de 2019, os estrangeiros que tentarem entrar naquele país pela fronteira sul "ilegalmente ou sem a documentação adequada" serão devolvidos ao México, onde deverão permanecer "durante a duração de seus procedimentos de imigração, onde o México lhes fornecerá todas as proteções humanitárias apropriadas durante sua estadia”.

A lentidão desse processo fez com que milhares de migrantes sem documentos permanecessem em Matamoros, no lado mexicano da fronteira, esperando que seus pedidos de asilo nos Estados Unidos fossem resolvidos.

Entre mil e dois mil desses migrantes permanecem abrigados em barracas instaladas às margens do Rio Grande.

Uma situação "desumana"

Para o Pe. Alan Camargo, porta-voz da Diocese de Matamoros, a lentidão do processo de revisão dos pedidos de asilo parece ser uma "estratégia para cansar" os migrantes, já que às vezes são atendidos apenas "dois casos por dia".

“É uma situação desumana”, disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI.

“Há um ano, o processo era mais ágil”, lembrou, mas “há seis meses tem sido uma questão bastante desumana”.

“Imagine: você está fazendo fila para ver se é um candidato (a asilo) enquanto está confinado à intempérie”, acrescentou.

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Pe. Camargo destacou que a Igreja Católica e instituições da sociedade civil estão ajudando e apoiando os migrantes de Matamoros, “mas permanece a dúvida se existe um interesse estrutural por parte de nossos governos” em abordar o drama humano que os migrantes estão vivenciando na fronteira do México com os Estados Unidos.

“Não devem ser vistos como casos isolados”

Pe. Francisco Gallardo López, coordenador da Pastoral Social de Mobilidade Humana da Diocese de Matamoros, recordou a Óscar e sua filha Valeria, de 23 meses, que morreram em junho de 2019 enquanto tentavam cruzar o Rio Grande perto de Matamoros.

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“Já tivemos dois casos graves de jovens que tentaram atravessar e que se afogaram. Eles não devem mais ser vistos como casos isolados”, disse à ACI Prensa, lamentando que “algumas mulheres já tenham passado em estado de gravidez avançada para a criança nascer nos Estados Unidos”.

O sacerdote mexicano destacou que a pandemia de coronavírus COVID-19 atingiu gravemente os migrantes da região, pois aqueles que já haviam se estabelecido em Matamoros ficaram sem emprego.

“Agora não podem pagar o aluguel, não têm a cesta básica, seus parentes ou amigos nos Estados Unidos que estavam ajudando a sustentá-los no momento não podem mais atendê-los porque nos Estados Unidos também há uma grande falta de trabalho", disse.

O golpe mais recente para os migrantes foi o furacão Hanna, que atingiu o sul dos Estados Unidos e o norte do México no final de julho.

Os migrantes que residem no acampamento instalado às margens do Rio Grande, disse o sacerdote, “não querem ir embora”, apesar do risco de um aumento no fluxo de água que poderia “carregar as barracas e tudo o que eles têm lá”.

“Oferecemos a eles uma casa de migrantes, oferecemos outros abrigos. Mas não querem sair de lá. Graças a Deus o rio não subiu tanto” por causa do furacão.

Mas o perigo para os migrantes não termina ao cruzar o rio.

As autoridades não se encarregam

O Coordenador da Pastoral Social de Mobilidade Humana da Diocese de Matamoros lamentou que a situação dos migrantes do acampamento às margens do Rio Grande não seja resolvida pelo Governo Federal, nem pelas autoridades estaduais ou municipais.

“Quem vem para cuidar deles é, em parte, a Igreja. Mas não podemos sustentar duas mil pessoas, é muito. Tivemos que fazer outras alianças com os irmãos norte-americanos, assim como outras igrejas não católicas”, disse.

Para o Pe. Gallardo López é importante levar em consideração “a dignidade da pessoa”, já que “os migrantes não podem viver em barracas às margens do Rio Grande. Eles têm que ter uma situação de segurança”.

No entanto, o desejo dos migrantes está além de qualquer ajuda que a Igreja e a sociedade civil possam oferecer.

“Nós, a sociedade civil ou as igrejas podemos dar-lhes comida, roupas, sapatos, quarto. Mas, na verdade, o que os migrantes querem é atravessar para os Estados Unidos. Esse é o sonho deles. A morte desse menino é um sonho que se transformou em pesadelo”, disse.

“Esta família passa por uma situação grave, mas insiste em atravessar para os Estados Unidos, embora o mundo inteiro caia sobre ela”, acrescentou.

Diante disso, o sacerdote recordou “casos positivos” que tiveram entre os que passaram pela casa de migrantes de São João Diego em Matamoros. “Tivemos algumas famílias de El Salvador instaladas na casa do migrante, várias delas voltaram para seus lugares de origem. Temos comunicação com alguns deles. Certamente vivem em uma situação muito vulnerável em seu país, de pobreza e tudo. Mas voltaram”.

Em um caso, uma grávida pensou em cruzar o Rio Grande, mas desistiu. O padre Gallardo López indicou que o bebê finalmente nasceu em El Salvador.

“A criança nasceu em sua terra, em seu lugar de origem, e eles nos enviaram algumas fotos e vídeos, nos quais nos dizem 'graças a Deus estamos em nosso país'”, disse.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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